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Mixed signals

O sinal se abriu. Ou não. O condutor, ainda confuso com o breve lampejo de realidade ou ilusão, tentava em vão decidir qual seria seu próximo passo. Sabia que não sabia o que viria pela frente, e lembrou-se de caminhos andados e de sinais indecisos que já encontrara. Dividia-se em dois, fez-se carro e condutor e fez-se indecisão. Partiu em dois a realidade que o cercava e achou que fosse nítida a divisão. Se tivesse atentado mais para cada momento, perceberia que são entrelaçados, os dois mundos, o carro e o condutor, o sinal aberto e o fechado, o sim e o não. Constituem-se de entremeados eternos, que somente se desfazem no momento da decisão, para se refazerem novamente, na próxima encruzilhada, ou antes. Entre tantos devaneios, quase se esqueceu do sinal, que alternava entre aberto e fechado. Tinha certeza que de nada adiantaria forçar para que abrisse, e mesmo assim sua insistência beirou a falta de lógica. No entanto, sabia também que há tempos atrás esse sinal nada significava para ele e não entendia como agora poderia significar tanto; talvez ele mesmo tivesse criado essa significação, na busca de algo em que se segurar, algo para perseguir, um objetivo a alcançar. Pensou que talvez o mais importante não fosse o sinal, e sim o caminho percorrido até ele e o que seria percorrido após ele. E com esse pensamento, o sinal se abriu. Ou não.
 
(26 de abril de 2010)